segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA




MatragA




A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA
João Guimarães Rosa
Editora Nova Fronteira, 1986.

O Velho Rosa sorri ao ver o deleite que me proporcionou com a leitura de Matraga. Assim contado, tim-tim por tim-tim, sem tirar nem pôr, com toda paciência de acender o fogo, assentar-se, calar-se e ouvir a aqueles que somaram histórias, tal qual, dormir com os sonhos. Num átimo ¹.

O abismo do homem. Uma queda e seu percurso. O cadafalso da margem do abismo, o silêncio do vácuo da queda, por fim, o solo.
A primeira fala - após a queda – o murmúrio da dor. A memória e a dor nas entranhas, membros, tronco e cabeça.
Entre o cadafalso e a queda, chicoteado pelas memórias - o cavalo, o selim, a soberba, o suposto poder -, de encontro com o solo. Por baixo de seu próprio olhar, a cegueira de um mundo pequeno, e de um sertão ainda menor.
Pirambeira abaixo, cai o homem. Já não tem nada a sua vista, só um fundo poço de lembranças embaralhadas, não tem mais, sequer, as falácias do jogo de truco.
O sertão das Geraes, pintado com tintas de sua própria autoria, o inexplicável, a roda de sua ordem, os vermelhos indizíveis e suas variações.
Um preto, uma preta recebem em seu abismo um branco, anjo caído, não caiu do céu nem do inferno, mas de um -, (inferno definitivo) ² -.  Vale o instinto de sobrevivência a cuidar de um animal ferido, impotente para o abate e a caça.
Do modo simples ressurge o homem, tem as mãos na terra, não prevarica, come e bebe seu suor. Tem “pertencência” com um novo chão e o que está a sua volta, sente os pássaros, o parto da sementes, o esverdear do plantio, o maduro dos frutos. Tem pai e mãe, pretos.
Mas como tudo é provisório, céu e inferno vêm aos poucos, têm sua hora e vez, Matraga seguirá seu destino, ter sua vez e hora, nem que seja a porrete.
Assim, Matraga segue a eito, matar os piores males que lhe assolaram:  a ignorância e a injustiça. O homem se curará das duas, terá a sua hora e vez, mas, antes da sua hora, sepultará os seus males. Do mal para o bem e vice-versa, ou às vezes os dois, juntos e misturados.

Bem-vindos as Geraes.

Vale a leitura!

(¹) Palavra muito utilizada pelo Velho Rosa, de tão presente, deveria ser exclusiva do mestre.


(²) Fragmento de poema “Murilo Mendes. 



2 comentários:

  1. E muitas vezes, num "átimo", pensamos que caímos num "inferno definitivo". Nem sempre é definitivo, mas não temos dúvidas de que se trata de um inferno. E tartamudeando, buscando driblar o medo, aguardamos a hora e a vez de sairmos dele. Ou de ele sair da gente.

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  2. Nesse mundo Roseano, itinerário e destino de incertezas, só uma certeza a Hora e a vez virá, sempre pelo bem.

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