Livro do desassossego,
Fernando Pessoa. Brasiliense, 1976.
Fernando Pessoa inaugura o cronista
Bernardo Soares, um semi-heterônimo, que andava às voltas com contabilidades
alheias.
Como um Deus do Olimpo, o "Pessoa" cronista.
No Livro do desassossego,
talvez a obra com um maior número de referências geográficas de Lisboa do início
do século XX. Descreve o autor, no seu trajeto diário, alguns hábitos, cenas
comuns, pessoas comuns da vida cotidiana.
Não contente com a obra de um
escritor, de tantas e tantas referências e informações, todo ser vivente,
quer e quer, sempre saber mais, não contentes querem-lhe a alma, querem seus passos,
pinçam referências, freneticamente saem em busca do itinerário de sua vida.
No 'imaginário coletivo' de "Pessoa", já o julgamos um o ator, quando a obra transcende o homem, é hora de saber:
Qual o
nome de sua água de colônia?
Qual marca de navalha lhe afeitava a barba?
Como amarrava os sapatos?
O dentifrício, qual o nome do boticário?
A tinta da caneta?
A medida do chapéu?
O nome da lavadeira?
O motorneiro do elétrico?
O grau das lentes dos óculos?
O prato preferido?
A tasca mais reles que frequentou?
Fez ou não xixi na Rua da Madalena?
Se guardava, ainda, o pijama riscado?
No baú haveria um fundo falso?
Quais os nomes dos moços de fretes -carregadores do baú -?
Ia aos cafés para o café?
Os amigos eram ou não de conveniências?
Realmente criou a frase da Coca-Cola: estranha-se e entranha-se? Porque não quis falar com a Cecília?
Qual livro Cecília lhe ofertou?
Será que leu Machado? Mário? Carlos? Aquele que disse que a vida não presta.
Qual marca de navalha lhe afeitava a barba?
Como amarrava os sapatos?
O dentifrício, qual o nome do boticário?
A tinta da caneta?
A medida do chapéu?
O nome da lavadeira?
O motorneiro do elétrico?
O grau das lentes dos óculos?
O prato preferido?
A tasca mais reles que frequentou?
Fez ou não xixi na Rua da Madalena?
Se guardava, ainda, o pijama riscado?
No baú haveria um fundo falso?
Quais os nomes dos moços de fretes -carregadores do baú -?
Ia aos cafés para o café?
Os amigos eram ou não de conveniências?
Realmente criou a frase da Coca-Cola: estranha-se e entranha-se? Porque não quis falar com a Cecília?
Qual livro Cecília lhe ofertou?
Será que leu Machado? Mário? Carlos? Aquele que disse que a vida não presta.
Sutileza de detalhes da vida
cotidiana, quando veste a manta de cronista, suas lentes, ainda ofuscadas, são faróis
de deleites e sofreguidão. Carrega a
caneta e o pensamento à mão, não dispõe de nada, além, do cenário, cujas vidas materializam-se
na metafísica explicável de suas lentes.
Seja trôpego, ereto, falso, seja verdadeiro, serão aos olhos do cronista - o simples -, como quer o nosso Velho Braga. Simples derramará palavras ao papel, lhes pertencendo a partir de então. Terá cada 'facto'¹ cotidiano sob seu domínio e sentimento, retirará o turvo natural para lhe depurar a essência. Alquimia sem manual.
Seja trôpego, ereto, falso, seja verdadeiro, serão aos olhos do cronista - o simples -, como quer o nosso Velho Braga. Simples derramará palavras ao papel, lhes pertencendo a partir de então. Terá cada 'facto'¹ cotidiano sob seu domínio e sentimento, retirará o turvo natural para lhe depurar a essência. Alquimia sem manual.
Não tardará em somar as horas,
horas que por vezes pertencem a outros, furtado, furtará de outros, as horas e
instantes de sua passagem, sem sabe-lo terão diante de si as lentes do
cronista.
Nos dará em uma bandeja generosa outras vidas.
Furtar-lhes a vida, não mais pertencem a eles, que sequer sabem dela.
De tão próximo, o queríamos nosso.
Vale a leitura.
¹ Em respeito ao fato português, terno para nós.
¹ Em respeito ao fato português, terno para nós.
Isto Célio:" Seja trôpego, ereto, falso, seja verdadeiro, serão aos olhos do cronista - o simples -, como quer o nosso Velho Braga. Simples derramará palavras ao papel, lhes pertencendo a partir de então...Não tardará em somar as horas, horas que por vezes pertencem a outros, furtado, furtará de outros, as horas e instantes de sua passagem, sem sabe-lo terão diante de si as lentes do cronista.
ResponderExcluirNos dará em uma bandeja generosa outras vidas."
E não é isso que os escritores fazem? Ficcionar a vida. Sempre.